Não é assim que as pessoas dizem? E se dizem, tem lá suas razões. Gritos, sirenes, roncos, estampidos, explosões... Todo e qualquer barulho em si além da conta e frequência, que tiram o sono de qualquer mortal.
Solidarizo-me com quem perde preciosas horas de sono com os incômodos ruídos. Mas não tenho do que reclamar. Durmo feito uma pedra. Isto porque a maioria deles não incomoda: nem o ônibus que passa cedinho na porta, nem tarde da noite; nem a campainha, nem ambulância e nem o lixeiro. Nem mesmo o bebê da vizinha!
Por que é raro alguém dizer ‘E durma-se com um silêncio desses?’ Ao menos é isso que desejo às pessoas:
- Durma bem, com a calma do silêncio, ou da chuva...
Ou
- Durma com Deus, com os anjos!
Ao menos é assim que eu durmo, salvo algum pesadelo, a maré é mansa. Dormir bem faz bem, desde que profundo e na medida, o que não significa dormir em demasia.
Agora se há um barulho que incomoda, talvez estes sejam únicos: os trovões e os rojões. O primeiro, por ser evento natural das noites de verão, não cabe apelação. Já o segundo, passíveis das noites de ano novo, dos santos juninos e nos finais de campeonato de futebol são sazonais, passageiros.
Outros são os ruídos, que se pode chamar de ‘desviáveis’, ou seja, podemos nos desviar deles se não quisermos enfrentar o desconforto que provocam: danceteria, carro de som, latidos de cachorro, britadeira, metrô, etc.
Desses estou sempre passando ao largo, incomodam demais. E não é porque não ouço dos ouvidos que tento evitá-los, mas porque os ouço pelas vibrações sensitivas que repercutem pelo corpo e provocam irritação. Talvez as pessoas ouvintes não percebam este detalhe porque nelas o simples fato de ouvir já dá o alarme do incômodo antes que estes cheguem às vias sensitivas de fato. É como se um celular estivesse programado para o modo vibrar sem interrupção, o que é irritante.
E quando penso que os ouvintes não gostem tanto do silêncio, vejo que talvez seja pela forma como vivem corriqueiramente no meio de tantos sons, ruídos e barulhos que isto se incorporou em suas vidas de tal modo que segue como uma rotina.
Sobre estes dois contrários – os ruídos e o silêncio – fiquei refletindo numa outra manhã, quando apanhei a cadeira e espreguicei de frente para o mar. Quase ninguém. Ondas mansas, a serra, a bica e as pedras, verdadeiro convite à contemplação, relaxamento e contato com a natureza. Aquela calma que reabastece mente e espírito, tão saudável e necessária.
Mas, à medida que pessoas iam chegando e com elas também os celulares e outras tralhas cibernéticas, minhas suspeitas se confirmaram: realmente as pessoas se incomodam com o silêncio. Salvam-se uns poucos que estão ali para cultivar o gostoso bate papo, ou caminhar, ou ainda, como as crianças que, com água e areia, já tem do que precisam para uma boa diversão.
Um dia apenas sem essas tralhas não faz mal a ninguém, creio eu.
Ah, o silêncio... Companheiro tão fiel!
Pela Inclusão e pela Vida.
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