Quadrilha e pipoca... Para espantar o frio tem quentão... Tem conversa
à beira da fogueira e para a criançada tem diversão.
Quem não gosta de festa junina? A religiosidade e a cultura tão
predominante no país? Mesmo no clima momentâneo girando em torno do futebol,
não dispensamos aqueles momentos gostosos de estar com a família e com amigos
e vizinhos, participando de rezas, comidinhas e folias típicas de junho.
Riqueza boa que herdamos e perpetuamos!
Folia e comidas à parte, o assunto agora é outro. Falando dos santos juninos, faz uma semana
que festejamos o primeiro santo do mês – Santo Antônio. O próximo será João.
Antes que cheguemos em Pedro e Paulo, vou repetir um acontecimento que me
ocorreu na última festa de São João. Não sei por que nunca
aprofundei no assunto, mas foi depois daquela leitura sobre o nascimento de
João Batista, que me ocorreu um lampejo e senti que a ideia se congelou
diante de pequena citação. Por mais que o conhecesse de cor, nunca havia
observado o rico detalhe.
Talvez seja pelo fato de que há momentos especiais em que somos
despertos para enxergar com novos olhos e claras razões sobre algo que, de
notório, ainda permanecia velado, esperando pela ocasião propícia de ser
descoberto...
A leitura discorria sobre o nascimento de João Batista, filho de
Isabel e do sacerdote Zacarias.
“Então fizeram sinais ao pai,
perguntando como ele queria que o menino se chamasse. Zacarias pediu uma
tabuinha, e escreveu: ‘João é o seu nome’(Lc 1,62-63).
Quem conhece o texto, sabe que Zacarias estava incomunicável, isto é,
com deficiência de comunicação (o texto diz mudo), em consequência de
ele haver duvidado do anúncio que o anjo Gabriel lhe fizera sobre ele ser pai
de João, ainda que na velhice, conforme citado mais anteriormente em Lc
1,18-20.
O que se seguiu então foi um diálogo diante de qual nome dariam ao
menino que acabara de nascer.
Pelo costume hebraico, o filho adotava o nome do pai. Para Isabel, a
mãe, ele seria chamado João, que significa a misericórdia de Deus, a
graciosidade de Deus. Então, para justificar a concordância, os parentes resolveram
perguntar a Zacarias “por meio de sinais” (v.62) como
ele queria que o filho se chamasse...
E Zacarias, “pedindo uma tabuinha, escreveu: seu nome é
João” (v.63)...
Foi exatamente esta citação que provocou a reflexão acerca da
narrativa. Nos dias atuais, denominamos de Libras a comunicação utilizada
pelas pessoas surdas, cuja manifestação é feita através de sinais gestuais e
corporais como forma de entendimento entre elas, com deficiência de audição e
de fala.
Ora, segundo os textos sagrados, Zacarias “ficara mudo”. Não há
nenhuma menção de que ficara também surdo.
A pergunta que não quer calar é: como, estando Zacarias apenas sem
voz, dirigiram-lhe a pergunta em sinais? Se uma pessoa ouve, mas não fala,
ela usa sinais apenas para expressar sua vontade. Logo, ouvindo, ela não
precisa de sinais para captar a mensagem, apenas para transmiti-la.
E daí veio a dúvida que continuará sendo uma dúvida: será que Zacarias
ficou também surdo?
Pesquisando assuntos teológicos, constatei que a cultura hebraica teve
muita influência da cultura greco-romana. Ora, ambas não fazem uma separação
entre surdo (apenas não ouve) e surdo-mudo (não ouve e não fala). Para a
cultura greco-romana, quem possuía uma destas limitações, era como se
possuísse ambas. Em nada se diferenciavam.
Longe de querer levantar um sentido literal do texto, exalto e
valorizo a riqueza de detalhes de que é possível se encontrar nas Sagradas
Escrituras. Gosto muito disso.
Não creio que Zacarias tenha ficado sem voz como “um castigo” divino
por sua incredulidade. Deus não castiga: Deus é amor, é ternura.
Creio em maior escala que Zacarias, em sua humanidade tão passível de
erro, como sacerdote habituado à rotina, ‘pisou na bola’ por querer apressar
o tempo de Deus, o “fazer” de Deus. E considero o seu mutismo como a maneira
encontrada como forma de reparar o ceticismo assumido, através do silêncio e
do recolhimento, na assimilação e contemplação da vontade divina sobre as
criaturas, rompendo barreiras, ultrapassando hábitos repetitivos e regras mesquinhas.
Silêncio vivido com humildade fomenta a sabedoria, gera alegria.
Pequeno detalhe?
Sim, um pequeno detalhe! Entre eles descobrimos riquezas que nos
induzem a buscar outros mais!
Então... “No mesmo instante sua boca se abriu e sua língua se soltou.” (Lc
1,64).
(Este artigo foi repostado. Em plena pandemia sem nossas amadas festas juninas presenciais, contudo, a reflexão fica de pé)
Pela Inclusão e pela Vida.
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PRETENSÃO
Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!
sexta-feira, 25 de junho de 2021
PEQUENO DETALHE
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