“Agora vemos como em espelho e de maneira
confusa; Mas depois veremos face a face.
Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido.” 1Cor
13,12
COMUNICAÇÃO PELO SISTEMA BLISS
Reservei
esta coluna para falar aqui no blog sobre o Sistema Bliss de Comunicação.
Resolvi
abrir este espacinho para informar a tantos quantos queiram ou se interessem em
saber do que se trata o Sistema Bliss. Já tive essa informação há vários anos,
mas confesso que “não corri atrás” para descobrir do que realmente se tratava.
Hoje, convivendo semanalmente com pessoas com paralisia cerebral, dei-me conta
do quão importante é este sistema na vida de algumas delas, cuja comunicação
não é feita verbalmente, mas por meio de símbolos e figuras que, associadas,
irão formando as palavras de modo que, juntando-as, formarão a frase completa a
ser finalmente comunicada.
Vale
lembrar que a maioria destas pessoas ouvem e captam a nossa mensagem, mas o
retorno (a sua resposta à nossa mensagem) é feito através do sistema Bliss.
Na
instituição, os usuários deste sistema têm a sua pasta própria (geralmente
carregam-na na bolsa junto à cadeira de rodas) ou numa prancha ilustrada sobre
a própria cadeira.
Confesso
que, cada vez que abro esta pasta ou vejo a prancha, fico insegura pela minha
falta de familiaridade com o modo de executá-la, o que não é tão simples,
principalmente para quem não ouve. Porém, não deixa de ser um desafio.
A
combinação de símbolos, por exemplo, de “sol+copo+água=sede” ou
“prato+comida=fome”, é muito prática, ora, para se chegar a esta conclusão é
necessário ir deslizando os dedos nas figuras até que o interlocutor sinalize
com movimentos da cabeça (sim ou não) ou ainda, de som afirmativo ou negativo à
figura desejada, que irá se juntar à outra e mais outra, de modo a formar então
a palavra e depois a frase inteira, que será a sua mensagem ao outro
interlocutor.
Complexo
não?
Também
acho e com a agravante de que eu não ouço a pouca voz ou os balbucios deles, o
que torna mais lenta a comunicação. Para um ouvinte até que se torna mais
rápida a captação da mensagem, porque neste caso não há necessidade de desviar
os olhos da tabela a toda hora, só para ver qual a expressão que o outro está
transmitindo.
Ô
mundão de Deus! Quanto mistério a descobrir nas relações.
E,
enquanto vou arranhando, engatinhando na nova experiência, ao mesmo tempo vou
degustando o quanto o universo e o ser humano são tão complexos, com tanto
aprendizado por descobrir.
Para
quem não conhece, o Sistema Bliss é uma tabela de figuras e símbolos utilizados
para comunicação não verbal, especialmente com as pessoas com paralisia
cerebral.
Veja
abaixo uma pequena transcrição do Sistema Bliss de Comunicação:
“A partir da década de 70
surgem novas concepções a respeito da imagem do indivíduo com deficiência, que
será visto não somente pelos seus comprometimentos e lesões, mas pelas suas
potencialidades, visualizando sua integração e inclusão social.
Até então, a abordagem
oralista era predominante nas intervenções em reabilitação (Ex.: deficiência
auditiva). Porém, com esta nova concepção da pessoa com deficiência à ação
social da comunicação torna-se mais relevante. Desta forma, como o objetivo do
trabalho passa a ser a integração e inclusão social do indivíduo,
desenvolvem-se pesquisas voltadas às dificuldades de comunicação com outro
enfoque, além da preocupação com o aspecto oral.
Em 1971, profissionais da
equipe do "Ontário Crippled Children's Centre", Toronto, Canadá,
desenvolveram pesquisas destinadas a encontrar um meio alternativo de
comunicação para crianças portadoras de distúrbios neuro-motores, que não
manifestavam a fala funcional. Apesar de investigarem os diversos métodos empregados
em entidades especializadas no processo de ensino/tratamento de crianças em
situações semelhantes, constataram que tais formas eram insatisfatórias e
limitavam o desempenho linguístico a uns poucos contextos, desfavorecendo as
diversas situações de comunicação (Moreira e Chun, 1997).
Frente a esta dificuldade,
descobriram em "Signs and Symbols around the World", de Elizabeth
Helfman, um sistema simbólico internacional criado por Charles K. Bliss
(baseado na escrita pictográfica chinesa e nas idéias do filósofo Leibniz), o
Blissymbolics - Sistema Bliss de Comunicação.
O objetivo do autor era o de
desenvolver uma forma de linguagem universal entre os homens (desenvolvido
entre 1942 e 1965), ou seja, um instrumento de comunicação mundial. Portanto, o
sistema não foi inicialmente destinado a portadores de distúrbios de
comunicação, começando a ser usado com esta finalidade em 1971 (após algumas
adaptações realizadas em conjunto com C. Bliss) pela equipe canadence, mais
especificamente por Shirley MacNaughton.
Inicialmente o método foi
aplicado em crianças não falantes portadores de paralisia cerebral, sendo
posteriormente introduzido em outras patologias como retardo mental, afasia,
autismo, entre outras.
A partir de 1974, o uso do
Sistema Bliss de Comunicação amplia-se para além daquele Centro. Em 1975, foi criada a Blissymbolics
Communication Foundation, atualmente Blissymbolics Communication International
(Toronto).
No Brasil, uma das
instituições pioneiras na introdução deste sistema é a Associação Educacional
Quero-Quero de Reabilitação Motora e Educação Especial, que implantou o método
a partir de 1978.”
Este
texto foi parcialmente extraído da abordagem sobre o Sistema Bliss de
Comunicação, de Luciana Della Nina Verzoni, publicado em 28/05/2011 no site
Bengala Legal – www.bengalalegal.com
Inclusão é vida.
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