“... para instituir um Estado Democrático,
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,
com a solução pacífica das controvérsias...”
Preâmbulo da Constituição da República Federativa
do Brasil, de 1988
Diferentemente do que se
possa pensar, brasileiro não é um povo conformado e a nossa história tem
mostrado isso diante de adversidades e situações de grande hostilidade, a
exemplo do que ocorreu no período da escravidão, quando se reivindicava ou o fim
da opressão ou negociações por melhorias das condições de vida da população.
A década de 1960 foi um
momento de nossa história que ainda causa grande nostalgia, onde parcelas da
população formada especialmente por jovens, buscavam reinventar e questionar a
sociedade então vigente. Esse movimento foi desafortunadamente sufocado e
reprimido pela ascensão de uma gerontocracia conservadora e autoritária.
Contudo, os anseios e a militância juvenil, nas guerrilhas urbanas e rurais
contra o regime, ainda mantiveram-se focados nas militâncias esquerdistas pelas
décadas seguintes.
O período da ditadura militar
brasileira foi o mais longo do Cone Sul. Partidos esquerdistas de oposição, já
no final do regime de exceção, abarcavam a maioria dos movimentos sociais e lideravam
a militância de resistência, bem como suas respectivas pautas de mudança,
liberdade e melhorias para o país.
Em fins da década de 1980 e
adentrando nos anos 1990, pipocaram grandes manifestações por eleições diretas,
seguida de destituição do poder através do impedimento presidencial por pressão
popular. Ainda, segmentos da sociedade representados pelas minorias de gênero,
raça e condição foram levantando suas próprias bandeiras e, de lá para cá não
só alçaram suas respectivas vitórias, bem como os dissabores do percurso, mas
que se mantiveram ativamente como que a marcar a pauta de luta.
O fato inédito da ascensão
das esquerdas, que assumiu o poder nos anos 2000, trouxe um novo conceito de
governança a partir das bases, valorizando o trabalhador, o combate à inflação
e à fome, a reforma agrária, bem como o fortalecimento da moeda interna e o
crescimento econômico. Contudo, não tardou para que o continuísmo desse as
caras, ofuscados então pelos brilhos do poder.
E o contexto atual tem
mostrado as crescentes manifestações populares que saíram às ruas nas últimas
semanas, cujo clamor embutido pede mudanças socioeconômicas e políticas.
Manifestações estas que surpreenderam a muitos de nós, primeiramente “encantados”
com a força com que nossos jovens tiveram a audácia de botar o bloco na rua - até
então subestimados – e agora mergulhados numa profunda reflexão de pensar
mudanças nos paradigmas vigentes.
A não inclusão e cumprimento
de políticas públicas de qualidade e a rejeição do sentimento de
representatividade em relação aos governantes que aí estão tem sido a causa dos
descontentes, canalizando na forma de protestos nas ruas, quase que
diariamente. Desse extenso contingente, vemos que a grande maioria é composta
por jovens, muitos deles com formação superior, e que apontam questionamentos às
esferas do poder, os então esquerdistas, que por anos canalizaram o clamor
popular, e agora no governo com seus aliados, de aliança com oligarcas e atrelado
às velhas instituições, mostram-se incapazes de produzir resultados novos,
práticos pela qualidade de vida da população.
Segue...
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