PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O POVO NAS RUAS POR MUDANÇA DE PARADIGMAS


Segunda parte  - Os ventos sopram

O Movimento Passe Livre (MPL), que já vinha atuando há alguns anos, desde 2003 tinha uma pauta com propostas contra o aumento abusivo das tarifas do transporte coletivo e, ainda, pela transparência dos gastos, bem como a destinação dos valores efetuados por parte das empresas de transporte. Isso mostra como a pauta foi além e se alastrou nas manifestações pelo país inteiro, onde descaso e cultura predominante na classe governamental, de não dar satisfação ao que é feito com o erário nacional, levando assim à crise de representação da qual nos encontramos.
São Paulo e Rio de Janeiro lançaram as primeiras manifestações, contudo, outras capitais e cidades de pequeno e médio porte foram aderindo, em cujas manifestações à participação da população foram proporcionalmente maiores. Destarte as mobilizações ocorridas aqui, que sensibilizaram e deu maior fôlego a outros segmentos da sociedade, ocorreu em virtude da truculência com que a polícia militar investiu sobre os manifestantes desarmados. Era o estopim.
A duras penas a mídia, fortemente polarizada e parcial, mudou o seu discurso de “pró-propriedade privada”, neoliberal e anticongestionamento – com todas as ironias que a história mostrou - para a justa visão do direito à livre expressão e manifestação. Mudança essa a posteriori das cenas televisionadas, filmadas e relatadas pelas redes sociais, do horror com que a polícia tem sido ao tratar civis desarmados.
Levantar uma bandeira “apartidária” ou a do Brasil se mostra um gesto preocupante, no entanto é latente a crise de representação partidária ou mesmo de centrais sindicais e de grupos estudantis institucionalizados como no passado funcionou tão bem. O próprio MPL se define como um movimento horizontal e sem lideranças refletindo a tentativa de expressar uma contracultura, sendo ele próprio a liderança da passeata. Mas é fundamental que se tenha a presença de partidos, a ditadura e os fascismos europeus eram avessos a partidos. E aqui vale lembrar que eram poucos os partidos, e de esquerda, que estavam presentes no ato em apoio.
Estes questionamentos, além da reivindicação de políticas públicas de qualidade, tem demonstrado que a população está descrente, pelo que se vê nos cartazes. A indagação ao sistema atual vigente deve ser considerada se, além da apresentação de propostas e alternativas, houver também um empenho intrínseco pela luta, no colocar a mão na massa e trabalhar pela transformação concreta dos destinos do país.
Palavras de ordem e protestos tem um peso significativo para acenar com mudanças, mas só acontecem na base do agir, do fazer acontecer. Ora, toda mudança implica em ruptura - ato de romper, rebentar – que é um processo doloroso. Sem isto, não há como vislumbrar a transformação do paradigma, quando o descontentamento e a indignação dão lugar às ações concretas que visam transformação da realidade num outro modelo, não desigual.
É sábia aquela frase dita por Jesus Cristo: “Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha” - cf. Mt 9,16 - destarte, transformar o contexto da insatisfação representativa implica mudar a cultura de governar o país, como também a cultura popular na hora de expressar o voto pelo sufrágio universal. Aqui, o povo não está querendo o poder, mas a transformação do paradigma vigente.
Os ventos que tem soprado nestes últimos dias, já apontam algumas medidas sendo tomadas, que demonstra o poder e a força popular. Há, porém, que se cuidar para não cair no canto das sereias, das estratégias rápidas e maquiadas, sem efeito duradouro, porque não fundadas nas mudanças estruturais necessárias para o bem da nação.
Inclusão é vida.

(Este artigo foi escrito em parceria com o sobrinho Lucas, graduando em História pela UNIFESP, no calor dos acontecimentos que ocorrem pelo país, e cuja reflexão faz-nos revisitar a história)

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