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Prédio da Administração Central - ESALQ |
Quem diria...
Foi entre os sete e os nove
anos que conheci aquele parque, na companhia de meus irmãos e dos primos,
filhos de tio Antônio. A família dele, os Boldrin, residia em Piracicaba, na
fazenda canavieira de Santa Fé. Anos mais tarde mudaram de ramo e de cidade,
da cana para os cítricos, em Araraquara.
Daquele parque, a então fazenda
que abriga a ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz - hoje o
campus, lembro-me que, na companhia dos primos e irmãos, juntamo-nos ali num
domingo às inúmeras crianças em passeio, soltas quais borboletas sem rumo e
correndo a esmo pelo imenso gramado, rolando no capim que pinicava e por
entre formigueiros. Naquela agitação descontrolada derrubamos até utensílios
expostos sobre toalhas ao chão, objeto dos piqueniques que muitas famílias
ali desfrutavam, inclusive esbarrando até nos namorados que trocavam carinhos
furtivos sob as sombras das inúmeras árvores, naquele calorão de cidade
interiorana.
Na época, em meus parcos
conhecimentos de criança, cujo mundo girava em torno da família, da escola,
da missa aos domingos e das brincadeiras e passeios, meu horizonte não
captava ainda o que seria uma universidade em si, muito menos como se
desenvolvia todo seu funcionamento. A informação não era tanta, ademais, a
primeira TV em preto e branco que chegou em casa ocorreu nesta mesma época.
Por mais que meu tio tentasse
explicar sobre aquelas vastas dependências, lembro-me que não interessava
tanto na conversa, ficava mesmo é deslumbrada com o visual ali à frente: o
porte daquele casarão (o atual prédio da Administração Central), com suas
portas e vidraças enormes, rodeado pela diversidade de árvores; os jardins,
cujo gramado frontal aguçava os desejos infantis de correr até se perder de
vista. Na margem esquerda do prédio havia pequena ruela donde sobressaíam,
dispostas em fileiras, várias palmeiras que davam charme ao local. Desde
então, aquela imagem ficou gravada em minha memória, como que num esboço de
aquarela.
Quarenta anos se passaram desde
a última cena ali presenciada. Com meu tio já falecido, foram-se os laços.
Diz a sabedoria popular que nada nesta vida algo acontece por acaso e que o
destino, numa conspiração divina, une e cruza os fatos e a vida das pessoas.
Não deixa de ser um pensamento sábio.
Como os rios que correm para o
mar, no anseio de encontrarem outras águas, hoje vislumbro com alegria o
reencontro de todo aquele cenário, um dia congelado na mente de criança e que
volta com novo impulso e descortina uma realidade que, através do tempo, vai
unindo numa emenda de fios do passado e do presente a linha da história,
revelando como a vida é bonita.
Daquele esboço de aquarela, o
gramado está lá, verde e imenso. O “casarão” nada mudou, imponente! As árvores
mais antigas e retorcidas contrastam com as mais jovens, plantadas a cada
turma que ali cola grau. As palmeiras, altivas e majestosas dão a impressão
de que o tempo parou.
Quem diria que, neste janeiro
de 2012, nos encontraríamos de novo e desta vez para a formatura do César,
filho de um dos irmãos que, por aquele gramado de outrora, também corria,
pequeno e feliz.
Continua no próximo post...
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