PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

domingo, 19 de janeiro de 2014

Fragmentos de uma formatura – Parte 1


Prédio da Administração Central - ESALQ



Quem diria...

Foi entre os sete e os nove anos que conheci aquele parque, na companhia de meus irmãos e dos primos, filhos de tio Antônio. A família dele, os Boldrin, residia em Piracicaba, na fazenda canavieira de Santa Fé. Anos mais tarde mudaram de ramo e de cidade, da cana para os cítricos, em Araraquara.

Daquele parque, a então fazenda que abriga a ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz - hoje o campus, lembro-me que, na companhia dos primos e irmãos, juntamo-nos ali num domingo às inúmeras crianças em passeio, soltas quais borboletas sem rumo e correndo a esmo pelo imenso gramado, rolando no capim que pinicava e por entre formigueiros. Naquela agitação descontrolada derrubamos até utensílios expostos sobre toalhas ao chão, objeto dos piqueniques que muitas famílias ali desfrutavam, inclusive esbarrando até nos namorados que trocavam carinhos furtivos sob as sombras das inúmeras árvores, naquele calorão de cidade interiorana.

Na época, em meus parcos conhecimentos de criança, cujo mundo girava em torno da família, da escola, da missa aos domingos e das brincadeiras e passeios, meu horizonte não captava ainda o que seria uma universidade em si, muito menos como se desenvolvia todo seu funcionamento. A informação não era tanta, ademais, a primeira TV em preto e branco que chegou em casa ocorreu nesta mesma época.

Por mais que meu tio tentasse explicar sobre aquelas vastas dependências, lembro-me que não interessava tanto na conversa, ficava mesmo é deslumbrada com o visual ali à frente: o porte daquele casarão (o atual prédio da Administração Central), com suas portas e vidraças enormes, rodeado pela diversidade de árvores; os jardins, cujo gramado frontal aguçava os desejos infantis de correr até se perder de vista. Na margem esquerda do prédio havia pequena ruela donde sobressaíam, dispostas em fileiras, várias palmeiras que davam charme ao local. Desde então, aquela imagem ficou gravada em minha memória, como que num esboço de aquarela.

Quarenta anos se passaram desde a última cena ali presenciada. Com meu tio já falecido, foram-se os laços. Diz a sabedoria popular que nada nesta vida algo acontece por acaso e que o destino, numa conspiração divina, une e cruza os fatos e a vida das pessoas. Não deixa de ser um pensamento sábio.

Como os rios que correm para o mar, no anseio de encontrarem outras águas, hoje vislumbro com alegria o reencontro de todo aquele cenário, um dia congelado na mente de criança e que volta com novo impulso e descortina uma realidade que, através do tempo, vai unindo numa emenda de fios do passado e do presente a linha da história, revelando como a vida é bonita.

Daquele esboço de aquarela, o gramado está lá, verde e imenso. O “casarão” nada mudou, imponente! As árvores mais antigas e retorcidas contrastam com as mais jovens, plantadas a cada turma que ali cola grau. As palmeiras, altivas e majestosas dão a impressão de que o tempo parou.

Quem diria que, neste janeiro de 2012, nos encontraríamos de novo e desta vez para a formatura do César, filho de um dos irmãos que, por aquele gramado de outrora, também corria, pequeno e feliz.


Continua no próximo post...





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