Fale devagar, assim entendo!
Esta é, sem dúvida, a frase mais comum que utilizo em relação às pessoas que conheço pela primeira vez, ou então, com aquelas de pouca convivência e quando nos reencontramos, elas se esquecem de que para entendê-las, tenho necessidade de ler os lábios para captar a informação e corresponder à conversação, assim como ocorre com a maioria dos surdos oralizados.
Mas tem vez em que, além do esquecimento, as pessoas nem assim se tocam e é necessário lembrá-las sempre de falar de frente, de forma mais pausada e gesticular melhor os lábios. E ocorre que algumas delas também encontram dificuldade em compreender o que digo, e isto faz com que eu também devo falar mais devagar para que elas entendam e assim a comunicação seja uma via de mão dupla. Afinal, para que haja uma conexão, é necessário que todos os lados estejam articulados e interligados entre si.
E ocorrem situações na vida de pessoas surdas em que fica impossível manter uma conversação com o interlocutor e concomitante com o desempenho de uma atividade rotineira, sob o risco de deixar a pessoa falando sozinha ou então interromper aquela tarefa. São casos, por exemplo: conversar enquanto se lava a louça, ou quando se está dirigindo, ou ainda, caminhando apressadamente e conversando na rua.
Já me ocorreu de quebrar a louça durante o bate papo. E alguns motoristas desavisados que precisem tirar os olhos da via para dar uma informação... Também já levei tropeções no percurso da caminhada por desviar os olhos do chão e olhar no rosto do interlocutor enquanto conversava no trajeto.
Se a conversa é mais importante, deixo a louça para depois. Falo só o necessário. E, caso necessário, converso apenas o essencial apoiando-me no braço da pessoa como fazem os cegos. E olha que não faz nada bem para os pulmões uma caminhada à base de conversa! Evitemos...
É assim que nós somos, os surdos, em nosso mundo completamente visual e "zerado" em áudio. Agimos dessa maneira sem nenhuma maldade nem provocação, para as pessoas não dizer que não lhes damos atenção, ou somos desinteressadas, etc.
É nosso jeito diferente de ser.
Nada como brincar então: “Pode falar, estou ouvindo!”
Pela Inclusão e pela Vida.
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