PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sexta-feira, 28 de março de 2014

FÉ E COERÊNCIA



DEIXA A LUZ BRILHAR

“Ao passar, Jesus viu um homem que era cego desde o nascimento. Os discípulos perguntaram: Rabi, quem foi que pecou, para ele nascer cego? Foi ele, ou foram seus pais?
Jesus respondeu: Não foi ele que pecou, nem seus pais, mas isso aconteceu para que as obras de Deus se manifestem nele.”

(João 9,1-3  - Nova Bíblia Pastoral, Paulus, 2014)



Ainda hoje persiste ideia similar a esta narrativa, a concepção que certas pessoas têm da ligação entre deficiência e doença, coisa quase inseparável. Registro logo de início que a maioria das deficiências é causada, senão congenitamente, pelas variadas doenças tais como: meningite, caxumba, rubéola, poliomielite, diabetes, etc., mas que não há correlação entre ambas. Doença é um fenômeno ocasional que acomete a pessoa, o quadro apresenta uma melhora e cura, ou então causa um dano irreversível. Deficiência é uma limitação física permanente ou não, provocada pelas sequelas da doença a que foi acometida a pessoa; que pode afetar um ou mais membros do seu corpo, sem deixar de ser ele mesmo, um ser inteiro. Isso não significa que a pessoa seja um eterno doente.

E a narrativa tem seu início com uma dúvida idêntica a que certas pessoas já fizeram alguma vez a si mesmas ou desabafaram com amigos: “Que fiz eu para que meu filho nascesse com uma deficiência?” Ou: “Qual foi meu erro para que Deus me castigasse com este sofrimento?”.

A resposta que Jesus apresenta não se trata necessariamente de uma abordagem da deficiência em si, mas da abertura da pessoa à fé e a um novo projeto de vida que Ele vem trazer, gerando uma transformação radical na pessoa. É uma reflexão educativa, a partir de um fato concreto, não só a seus discípulos como também a nós hoje, sobre a inclusão. Delineia uma visão teológica da deficiência - é pelos limites e pela diferença que Deus se revela nesse meio, e se dá a conhecer. Cristo tem um ver – julgar - agir muito peculiar: as diferenças são visíveis “para que as obras de Deus nela se manifestem”.

Máxima usual naquele legalismo religioso de que “todo pecado que os pais cometem é descontado nos filhos” encontramos no livro de Ezequiel (AT), ele próprio que já pregava pela extinção dessa tese, quando dizia: “Que sentido tem para vocês este ditado que se repete na terra de Israel: ‘Os pais comeram uva verde, e a boca dos filhos ficou amarrada’... vocês não vão mais repetir esse ditado em Israel. Todas as vidas são minhas, tanto a vida do pai como a vida do filho.” Ez 18,2-4.

Jesus reafirma com palavras e com atos que a deficiência não é castigo nem abominação como consequência dos erros cometidos, seja de quem for, mas motivo de acolhimento, crescimento e superação tanto pessoal como social. Se aquele cego não fosse cego, Jesus nem teria passado por ali, nem devolvendo a visão e muito menos deixado uma mensagem rica de adesão pela liberdade e pela vida.

O que dizer do comportamento de famílias que tem pessoas com deficiência em seu meio? Como se comportam diante dessa realidade? São pais ou filhos acolhedores e compreensivos? Estão presentes nas situações diárias e buscando sempre o melhor, bem como lutando para que a família seja coesa e aberta à partilha das necessidades de outras famílias? Ou são como os pais do cego, ora aqui narrados, omissos e alienados, que entregam a pessoa com deficiência à própria sorte, ou preferem que viva numa redoma, longe da realidade? 

Acreditar no potencial de pessoas cegas ou com deficiência visual é nutrir a esperança, nutrindo metas com qualidade de vida, onde a luta pela igualdade de oportunidades com os demais promova o caminhar com as próprias pernas numa sociedade promotora de direitos, respeito e liberdade.  



Pela Inclusão e pela Vida!





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