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"Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê é necessário saber como são seus olhos e qual a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiência tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação..."
Leonardo Boff
Fui voto vencido entre a
maioria daqueles jovens que discutiam sobre a descriminalização do aborto. Não
tanto uma discussão, talvez assim alguns pontos de vista expostos. E fiquei a
pensar sobre a frase acima: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”? Ou
ainda, de pontos?
Por que penso assim? Por que
outros pensam não assim? Como nosso pensar divergente pode transformar-se num
pensar coeso? Pensar a razão e o coração? Pensar a ética, a moral e a equidade;
a justiça e a liberdade, a fé e a transcendência...
E quando se passa a analisar
melhor a visão desse ponto, não basta apenas a opinião e o conceito pessoal que
se tem do assunto. Senão também o ponto da história, dos costumes, do
ordenamento jurídico, dos valores, da espiritualidade.
Descriminalizar o aborto em
nosso país é uma pauta muito delicada, complexa e avassaladora que abrange
vidas. São duas vertentes: ou se está a favor ou contra. Não há consenso e
blocos antagônicos se manifestam tendo, de um lado, aqueles que defendem a
autonomia da mulher sobre seu próprio corpo e, de outro, os que apelam para a
dignidade da vida embrionária em formação.
O que realmente está em jogo?
Quais as reais motivações e concepções de ambas correntes? Se o aborto é
considerado crime por tirar a vida de um ser em gestação, do mesmo modo é o
homicídio que tira a vida de um ser humano que já foi gerado. Ambos
considerados atos atentatórios contra a vida. Descriminalizar então a um já não
demonstra a concordância embutida também em relação ao outro?
Quem defende a vida?
Os defensores da liberdade da
mulher são unânimes em afirmar que ela tem a primazia de dispor sobre seu
próprio corpo, competindo-lhe unicamente decidir pelo abortamento ou não, sob
alegação de que o feto não pode ser considerado dotado de vida humana.
Afinal, o embrião e o feto são
pessoas? Quando então a vida se inicia de fato?
Para os que defendem a vida
embrionária, há uma forte corrente geneticista que afirma estar na fecundação o
início da vida. O momento da fusão dos gametas masculinos e femininos que dão
origem a um terceiro, já na tuba uterina, cuja individualidade está presente.
Este ser não é a soma da combinação do pai e da mãe apenas, mas um fenótipo
coeso e independente, ser humano em potência.
Que dizer daquele nosso
experimento comum, aprendido nos primeiros anos da escola primária, da
semeadura do grão de feijão sobre o chumaço de algodão umedecido e posto em
recipiente à luz da janela da sala de aula? Que no dia seguinte já despontava
pequeno broto e do qual ramificavam verdinhas folhas? Como negar que é já uma
planta aquela semente que foi fecundada no tubo, como também o seria na terra? Esta
experiência com tamanha visibilidade manifesta, já não se apresenta como princípio
de uma vida a olho nu?
Defender sim a vida, mas duas
vidas! Não é apenas a vida da mulher. É também a vida do embrião em formação.
Não somente um corpo e um ser, mas dois corpos, dois seres distintos.
Continua no próximo post...
Pela Inclusão e pela Vida.
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