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Seja por educação, seja por
precaução, raramente me sento nos bancos reservados nos ônibus, destinados para pessoas
idosas, grávidas, mães com bebês e pessoas com deficiências mais comprometidas.
Isto por que é um assento
reservado de fato e de direito para aqueles sujeitos, sem que haja necessidade
deles reclamarem tal garantia. Infelizmente, nem sempre o direito garantido
socorre a quem dele se beneficia, por conta da falta de educação, grosseria e
até provocação dos demais usuários do coletivo, sendo necessário que motoristas e cobradores ou mesmo pessoas de boa índole, reivindiquem aos faltosos a
gentileza na cessão a quem de direito.
Na última semana, porém, assim
que apanhei o coletivo, sentei-me num daqueles assentos marcados em amarelo,
tão vazio estava o veículo. Para minha surpresa, qual biscoito que cai com o
recheio voltado para o chão, no ponto seguinte um senhor corpulento e
aparentando bem mais que a meia idade sentou-se ao meu lado e ali ficamos no
maior aperto. Rapidamente olhei de soslaio e vi que havia ao lado outro assento
reservado e vazio.
Por que será que ele foi
sentar-se justamente ali? Que fazer? Ficar ou mudar de lugar? E se ele me
entendesse mal? No exato instante em que decidia pela segunda alternativa, o
celular vibrou no canto da bolsa. Mal conseguindo alcançá-lo e nova vibração e
mais outra se fez. Três chamadas distintas que aguardavam pelo WhatsApp.
Ao tentar responder à primeira,
pressenti que o idoso falava comigo e eu não havia notado. Olhei-o e vi que
buscava informação sobre determinado local. Entre responder a um e outro,
indiquei-lhe rapidamente o local e voltei ao aparelho, na tentativa de acertar
as teclas mesmo sob o chacoalhar do ônibus. E uma zoeira começou a se instalar,
própria de quem, pela ausência de audição, não possui reflexos para enfrentar duas
ou mais situações concomitantes.
Não satisfeito, ele seguiu no
interrogatório, desta vez perguntando da minha pronúncia diferente e de como
lidava com o telefone. Deixei o aparelho de lado e, à medida que fui respondendo e enaltecendo a tecnologia assistiva que permite aos surdos a comunicação por telefone através do teclado e por meio de um aplicativo específico, possibilitando intercâmbio de dois ou mais usuários ao mesmo tempo, a cobradora e alguns
passageiros ao redor, não satisfeitos em “ouvir com os ouvidos”, eram todos
olhares para nós.
Situações assim se repetem
comigo sob formas diversas. Algumas vezes, penso em ficar quieta que assim nada
acontecerá. Mas que fazem pensar como momentos que “estavam previstos” a
acontecer e que devem ser ocasião propícia para informar as pessoas sobre uma
realidade que elas talvez desconheçam e então abordar a inclusão, alargando seus horizontes.
Esclarecer é preciso e mudar
paradigmas também.
Quanto às outras chamadas,
deixei para responder quando descesse do coletivo. Afinal, ou é oito ou oitenta...
Pela Inclusão e pela Vida!
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