PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

terça-feira, 3 de agosto de 2021

AMARELINHO LINDO



AGOSTO
Aprendi a gostar de Agosto!
Quando muitos vão a contragosto...
Ele começa amarelinho com as primeiras flores do Ipê,
Quanta majestade a árvore: despe-se das folhas
e exibe só o ouro!
Em sua exuberância, deixa-se contemplar,
Uma beleza que não se fala, que muito cala, porque
Lábios não exprimem o que os olhos veem.

E Agosto,
Amarelinho fica até o fim.
Porque anuncia a transição inverno e primavera,
Dormência que se dissipa,
Vida que ressurge e revigora,
Anunciando a aurora
Da primavera!

Agosto, Ipê-amarelo... Que simbiose os une!
Amo muito tudo isso...




Pela Inclusão e pela Vida!



terça-feira, 13 de julho de 2021

SOMOS ASSIM



Somos assim, feitos de dúvidas.
Porque não ouvimos, entendemos!
Vivemos a perguntar.
Se não o fizermos e alguém não dizer,
Não saberemos,
Quem responderá?

Por não compreender,
Ficamos no espaço e vagamos.
Sonhamos, imaginamos...
A incerteza é nossa companheira de caminhada.
Com ela trilhamos,
Crescendo, nos ajuntando,
Na variedade, na gama.

Como estrada ainda incompleta é o mundo nosso.
Seguimos, acenamos, gesticulamos.
Juntando fragmentos e metades,
Aprendendo nos reveses
Feitos de gritante silêncio, imagens sem sons,
Cores, sabores, vastidão,
Vagando pelo universo
Que a tudo recria e cala.

Muitas vezes não captando,
Como os demais também
Faz-se diferença fugaz, vezes capaz,
De distanciar, ferir e isolar.
O desejo de falar, escrever,
Acenar e tecer
Do sonho uma realização
Complementação...

Sonhar, não apenas,
Como também divagar, por que não?
Se não filtramos a tradução
E o som da interação
Então olhamos e sentimos!
Nossa verdade é sutileza,
Percepção e admiração.

Somos assim...
Como a vida moldou, a sina mostrou, destino traçou
Se não nos entendem, quem melhor nos pretende
Entre toda criação?
Por que ficar, chorar e sofrer?
Se caminhar é movimento, que corre feito um rio,
Que a tudo carrega e ajeita,
E sempre de surpresas enfeita
Suas curvas e desvios.

Vida, generosidade sem fim, natureza caprichosa,
Onde céu e terra conspiram!
O sopro do Espírito aí se instaura,
E faz a magia: momento exato e delineado, oportuno!
Que abre a ferida, numa sangria dolorida,
Forjando contrastes
Promovendo ternura...

Façamos um pacto
Entre a tênue linha que nos separa:
Lua e sol, abismo e vulcão,
Tempestade e brisa,
Amor e fantasia
Haja configuração!
Nada de escuridão, lábios escondidos,
Mãos camufladas e gestos tolhidos
Prevaleça a reaproximação.

Comunicação...
Seja a força que nos transforma,
Une e condensa!
Cumplicidade que tece e sublima,
Tal simbiose mãe e feto.
Caule e raiz,
Força motriz,
Gerando afeto e liberdade
Respeito, profundidade
Emoção e razão
Na vastidão...





quarta-feira, 7 de julho de 2021

DICAS INCLUSIVAS




O texto que segue são algumas Dicas de Comportamentos Inclusivos diante de Pessoas com Surdez, de autoria de Romeu Kazumi Sassaki, Especialista em Inclusão:
  • Se quiser falar com uma pessoa surda, sinalize com a mão ou tocando no braço dela. Enquanto estiverem conversando, fique de frente para ela, mantenha contato visual e cuide para que ela possa ver a sua boca para ler os seus lábios. Se você olhar para o outro lado, ela pode pensar que a conversa terminou.
  • O interlocutor deve falar de frente para o surdo, de modo que este tenha acesso à leitura oro-facial (leitura dos lábios e dos movimentos faciais) e a todo o movimento corporal, favorecendo uma melhor compreensão da mensagem.
  • Não grite. Ela não ouvirá o grito e verá em você uma fisionomia agressiva. 
  • Se tiver dificuldade para entender o que uma pessoa surda está dizendo, peça que ela repita ou escreva. 
  • Fale normalmente, a não ser que ela peça para você falar mais devagar.
  • Seja expressivo. A pessoa surda não pode ouvir as mudanças de tom da sua voz, por exemplo, indicando gozação ou seriedade. É preciso que você lhe mostre isso através da sua expressão facial, gestos ou dos movimentos do corpo para ela entender o que você quer comunicar.

  • Se a pessoa surda estiver acompanhada de um intérprete da língua de sinais, fale olhando para ela e não para o intérprete.
  • Se aprender a língua de sinais brasileira (Libras), você estará facilitando a convivência com a pessoa surda.
  • Ao planejar um evento, providencie avisos visuais, materiais impressos e intérpretes da língua de sinais.
  • O uso da escrita é um bom recurso para esclarecer dúvidas, confirmar um dado importante, registrar uma informação urgente, garantir a compreensão do recado ou informação, mudar uma ordem, responder a uma solicitação ou ser usada como rotina na comunicação de avisos gerais.

Diante de uma pessoa com deficiência da fala

  • Existem diversas alterações de fala, variando desde as mais simples, como a dificuldade em pronunciar os sons de maneira correta, até as mais complexas, como a perda total da voz, as gagueiras mais graves e os transtornos causados por um problema neurológico, que podem prejudicar tanto a fala como a compreensão.
  • Mantenha a calma quando falar com alguém que apresenta alguma dificuldade de comunicação oral. Não tente adivinhar o que ela quer dizer e não a deixe sem resposta.
  • Procure olhar no rosto de quem fala; fale pausadamente; use poucas palavras de cada vez; espere a sua vez de falar e só comece quando tiver certeza de que o outro terminou o que tinha a dizer.
  • Se não entendeu o que foi falado, não tenha receio de pedir que o outro repita ou escreva. A maior parte das pessoas com dificuldade na fala tem consciência disso e não se incomoda em repetir, desde que encontre alguém realmente interessado em ouvi-la.


Pela Inclusão e pela Vida.



terça-feira, 29 de junho de 2021

REFLETINDO A INCLUSÃO COM SÃO PEDRO






Então Pedro tomou a palavra e falou: “Na verdade, eu me dou conta de que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça é agradável a ele.”
Atos 10,34-35 (Nova Bíblia Pastoral – Paulus, 2014)


Esta pequena, mas eloquente citação de Pedro, narrada no livro dos Atos dos Apóstolos, além de uma convicção assumida depois de uma experiência pessoal, é brilhante exortação à inclusão. Ele, sendo judeu, foi muito corajoso na animação de uma comunidade a partir da casa de um pagão. Nela inicia uma catequese junto aos não batizados. Pode-se entender aqui a diversidade de raças e culturas (qualquer que seja a nação) distintas e presentes, então abertas para conhecer a novidade que é a figura de Jesus de Nazaré. Para Pedro, está muito claro que vale quem respeita (teme) a Deus e daí vive esta fé com justiça e caridade.

Ninguém é melhor que ninguém. Nenhuma religião deve arvorar-se de ser a preferida. Pelo contrário, é imperativo a vivência da caridade para que, na unidade, todas sejam caminhos que se encontram e levem a Deus.

O que somos e fazemos, a fé pela qual cremos, vale enquanto formos capazes de conhecer e acolher o projeto de Deus: Amá-lo como nosso único Senhor e vivermos o amor sem exclusão, sem maior nem menor, gênero, opção ou condição.

Que bonito é poder compartilhar das diferenças religiosas, quando sabemos e cremos que nosso Pai é Único. Diversos, somos como um único pão, tipo aquela bengala saborosa e crocante, repartida em várias fatias que, mesmo fragmentadas, provêm do mesmo e único pão, inteiro!




Pela Inclusão e pela Vida.







sexta-feira, 25 de junho de 2021

PEQUENO DETALHE




Quadrilha e pipoca... Para espantar o frio tem quentão... Tem conversa à beira da fogueira e para a criançada tem diversão.

Quem não gosta de festa junina? A religiosidade e a cultura tão predominante no país? Mesmo no clima momentâneo girando em torno do futebol, não dispensamos aqueles momentos gostosos de estar com a família e com amigos e vizinhos, participando de rezas, comidinhas e folias típicas de junho. Riqueza boa que herdamos e perpetuamos!

Folia e comidas à parte, o assunto agora é outro.  Falando dos santos juninos, faz uma semana que festejamos o primeiro santo do mês – Santo Antônio. O próximo será João. Antes que cheguemos em Pedro e Paulo, vou repetir um acontecimento que me ocorreu na última festa de São João. Não sei por que nunca aprofundei no assunto, mas foi depois daquela leitura sobre o nascimento de João Batista, que me ocorreu um lampejo e senti que a ideia se congelou diante de pequena citação. Por mais que o conhecesse de cor, nunca havia observado o rico detalhe.

Talvez seja pelo fato de que há momentos especiais em que somos despertos para enxergar com novos olhos e claras razões sobre algo que, de notório, ainda permanecia velado, esperando pela ocasião propícia de ser descoberto...

A leitura discorria sobre o nascimento de João Batista, filho de Isabel e do sacerdote Zacarias.

“Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse. Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: ‘João é o seu nome’(Lc 1,62-63).

Quem conhece o texto, sabe que Zacarias estava incomunicável, isto é, com deficiência de comunicação (o texto diz mudo), em consequência de ele haver duvidado do anúncio que o anjo Gabriel lhe fizera sobre ele ser pai de João, ainda que na velhice, conforme citado mais anteriormente em Lc 1,18-20.

O que se seguiu então foi um diálogo diante de qual nome dariam ao menino que acabara de nascer.

Pelo costume hebraico, o filho adotava o nome do pai. Para Isabel, a mãe, ele seria chamado João, que significa a misericórdia de Deus, a graciosidade de Deus. Então, para justificar a concordância, os parentes resolveram perguntar a Zacarias “por meio de sinais” (v.62) como ele queria que o filho se chamasse...

E Zacarias, “pedindo uma tabuinha, escreveu: seu nome é João” (v.63)...

Foi exatamente esta citação que provocou a reflexão acerca da narrativa. Nos dias atuais, denominamos de Libras a comunicação utilizada pelas pessoas surdas, cuja manifestação é feita através de sinais gestuais e corporais como forma de entendimento entre elas, com deficiência de audição e de fala.
Ora, segundo os textos sagrados, Zacarias “ficara mudo”. Não há nenhuma menção de que ficara também surdo.

A pergunta que não quer calar é: como, estando Zacarias apenas sem voz, dirigiram-lhe a pergunta em sinais? Se uma pessoa ouve, mas não fala, ela usa sinais apenas para expressar sua vontade. Logo, ouvindo, ela não precisa de sinais para captar a mensagem, apenas para transmiti-la.

E daí veio a dúvida que continuará sendo uma dúvida: será que Zacarias ficou também surdo?

Pesquisando assuntos teológicos, constatei que a cultura hebraica teve muita influência da cultura greco-romana. Ora, ambas não fazem uma separação entre surdo (apenas não ouve) e surdo-mudo (não ouve e não fala). Para a cultura greco-romana, quem possuía uma destas limitações, era como se possuísse ambas. Em nada se diferenciavam.

Longe de querer levantar um sentido literal do texto, exalto e valorizo a riqueza de detalhes de que é possível se encontrar nas Sagradas Escrituras. Gosto muito disso.

Não creio que Zacarias tenha ficado sem voz como “um castigo” divino por sua incredulidade. Deus não castiga: Deus é amor, é ternura.

Creio em maior escala que Zacarias, em sua humanidade tão passível de erro, como sacerdote habituado à rotina, ‘pisou na bola’ por querer apressar o tempo de Deus, o “fazer” de Deus. E considero o seu mutismo como a maneira encontrada como forma de reparar o ceticismo assumido, através do silêncio e do recolhimento, na assimilação e contemplação da vontade divina sobre as criaturas, rompendo barreiras, ultrapassando hábitos repetitivos e regras mesquinhas. Silêncio vivido com humildade fomenta a sabedoria, gera alegria.

Pequeno detalhe?

Sim, um pequeno detalhe! Entre eles descobrimos riquezas que nos induzem a buscar outros mais!

Então... “No mesmo instante sua boca se abriu e sua língua se soltou.” (Lc 1,64).

(Este artigo foi repostado. Em plena pandemia sem nossas amadas festas juninas presenciais, contudo, a reflexão fica de pé)


Pela Inclusão e pela Vida.